As pesquisas científicas já mostraram evidências concretas de que o sedentarismo, alimentação inadequada, obesidade, uso de drogas regulares (analgésicos , calmantes , anticoncepcional , etc.) e estresse tornaram o acidente vascular cerebral (AVC) uma ameaça mais precoce, que não pode ser mais associada só aos pacientes que passaram dos 60 anos.
As mulheres são as principais acometidas por este fato , levantamento feito pelo Delas no portal Datasus – banco de dados eletrônico abastecido por todos os hospitais do País (públicos e privados ) – mostra que nos últimos dois anos, 3.712 mulheres com menos de 50 anos foram vítimas de AVC no País (popularmente chamado de derrame). Entre um ano e outro, o aumento de casos foi de 5,6% (de 1.802 para 1.910).
É um erro achar que as seqüelas do problema são mais amenas em pessoas mais jovens. Não depende da idade do paciente e sim do dano causado pela lesão. Por vezes, a parte comprometida do cérebro é muito grande e os efeitos são bem nocivos.
Foi o caso da bióloga Luciana Scotti, hoje com 40 anos, vítima da doença aos 20 de idade. Ao acordar do AVC, ela teve todo o corpo paralisado. Perdeu a fala, não anda mais e também não mexe os braços. Com o movimento de um só dedo, hoje ela trabalha na Universidade de São Paulo e divide sua experiência por meio da escrita. O primeiro livro “Sem asas ao amanhecer” levantou a importância de informações sobre o acidente vascular cerebral em mulheres jovens, em especial as fumantes.
Fatores internos e externos
No livro, Luciana diz que o indício mais concreto de causa do seu AVC foi o uso combinado de anticoncepcional e cigarro. Os médicos confirmam que a dupla é um dos fatores de risco do acidente vascular nas mulheres mais novas, em especial se elas sofrem de enxaqueca com aura (dores de cabeça, formigamento de braços, visão embaçada e até cegueira). Na lista de causas do AVC precoce, além do fumo em parceria com a pílula, figuram o uso de drogas (cocaína, heroína e crack), o sedentarismo, a hipertensão e a obesidade.
Ainda que os “males da modernidade” preocupem os neurologistas, não são os fatores externos os únicos responsáveis pelo AVC. Antes dos 45 anos, as doenças cardíacas são grandes desencadeadores do problema. Muitas vezes só descobertas, depois que a pessoa sofre um acidente vascular cerebral.
Sem motivo aparente
Myrna, 35 anos, entrou para a estatística do AVC aos 34 anos e o que motivou o acidente não foi nenhum dos fatores externos. Magra, alimentação saudável, pressão baixa são suas características. “Fiquei durante nove horas no pronto-socorro de um hospital tomando Dramin (remédio para enjôo). Só suspeitaram de algo mais grave no final da noite. Com certeza se eu fosse uma idosa teriam identificado a causa mais cedo”. Foram 35 dias de internação. Myrna não ficou com nenhuma seqüela do AVC, mas não quis se identificar nesta reportagem por medo das repercussões negativas que o AVC pode trazer em seu emprego e meio social.
A falta de motivo aparente para o AVC é recorrente, especialmente nos casos mais precoces. Em 30% dos pacientes com menos de 18 anos não é possível identificar uma causa para o acidente vascular cerebral.
Cuidado com a saúde
Ainda que nem todas as causas sejam claras, a constatação de que a doença pode aparecer cedo reforça que o hábito de medir a pressão e fazer exames cardiovasculares de forma periódica não deve ficar “só para mais tarde”. A clareza de que o AVC é uma causa de incapacidade em pessoas jovens e que pode acontecer no grupo etário menor de 45 anos e merece toda a atenção.
No estudo ficou constatado que 7,5% sofreram o problema antes de completar o 50º aniversário. Dois em cada dez destes pacientes mais jovens foram vítimas da arteriosclerose, a placa de gordura que entope as veias, causada em especial por colesterol, hipertensão e fumo. Há 20 anos, só 5% dos casos no grupo com menos idade tinham como esta a causa principal do AVC, um termômetro de que os hábitos não saudáveis avançaram 15 pontos porcentuais nas estatísticas.
O mais recente raio-X da saúde do brasileiro mostra que três em cada dez sofrem algum tipo de doença crônica, como hipertensão, diabetes ou depressão. Apesar disso, a maioria não utiliza a principal arma para evitar este tipo de problema: 66% são sedentários e 70,9% não realizaram um único exercício físico nos últimos três meses.
A pesquisa suplemento saúde da Pnad 2008 foi feita pelo Ministério da Saúde em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE). Foram entrevistadas mais de 190 mil pessoas, de todas as faixas etárias e classes econômicas, com dados das cinco regiões do País.
Um dos dados por trás do sedentarismo é que o brasileiro passa mais de três horas por dia em frente à televisão, conforme mostrou a pesquisa. Apesar de constatada a inatividade física dos brasileiros – considerada pelos especialistas como um dos mais perigosos fatores de risco para o desenvolvimento de doenças – a maior parte está satisfeita com a sua condição de saúde.
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